É PRECISO IR AOS EXTREMOS DE SI,
PARA QUE POSSA EXPERIMENTAR-SE POR INTEIRO !


Débora Vasconcelos

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

UM MARCENEIRO CHAMADO DEUS – 23/09/09


- Cortar essa árvore não vai ser fácil! Ter que feri-la a machadadas, matar algo que eu mesmo plantei quando criança. Acabar com aquilo que cultivei. E entender que hoje todos esses anos de dedicação e amor se tornaram uma ameaça, não só para mim, como também para minha família e minha casa, não será nada fácil!
A árvore foi plantada no lugar errado, muito próximo da casa e agora suas raízes ameaçam a estrutura dela.
Quando jovem não podia imaginar que essa árvore cresceria tanto assim, não tinha idéias da proporção que ela iria chegar.
Não imaginava que um dia suas raízes fossem querer entrar em minha casa. Não tinha idéia que eu sofreria tanto assim.
Mas enfim a árvore agora deve ser podada.
Terei que eu mesmo matá-la a machadadas, independente do amor que nela cultivei.
Agora parado aqui diante da árvore com o machado em minhas mãos eu sei que daqui a pouco a sua sombra será passado. E que aqueles galhos em que a minha rede balançava não existiram mais no alto, estarão no chão em vão. E daqui a pouco tudo será passado.
Difícil decisão, mas não tenho pra onde me mudar, então vou ter que conviver com o vazio dela na paisagem e quando abrir a janela de manhã ela não estará mais lá.
Difícil vai ser acostumar com a sua ausência assim tão de repente, pois foram muitos anos para que ela estivesse neste tamanho e agora terei que ignorar tudo de bom que ela me deu e como um homem de coração frio, terei que matá-la.
Infelizmente no amor às vezes também é assim. Às vezes temos que acabar com um amor que a pesar de amá-lo pode a qualquer hora nos ferir. É preciso estar preparado pra colocá-lo apenas no passado. É preciso seguir.
Às vezes são muitos anos cultivados, mais que só serviram pra nos iludir.
Difícil é ser forte, dar a segunda machadada, cortar a árvore até o fim.
Difícil é se manter afastado desse amor que assim como a árvore não faz mais sorrir, só trás preocupação e dor.
Difícil é admitir.
Não é fácil acordar na madrugada e constatar que não há ninguém ali.
Abrir a janela e não encontrar mais nada. – Cadê a árvore que estava ali?
Independente do amor que sentimos, às vezes é preciso impedir que continuemos nos ferindo com seus braços, raízes e galhos, que agora virarão passado.
Já que no presente não foi possível conviver.
Mas quem sabe com os anos ela possa realmente entrar em minha casa, se Aquele velho marceneiro que pegou seus troncos decidir fazer um móvel e me trazer aqui como Ele prometeu. Quem sabe assim a árvore possa conseguir o que ela tanto queria...habitar a minha casa.
Quem sabe assim ela ainda será de grande serventia e ainda possa me fazer sorrir.
Mas isso é algo que não depende mais de mim.
Deixe que o tempo resolva esse vazio que agora habita em mim.
E o amor que tive por ela, eu sempre terei em meu coração. A pesar de tê-la colocado no chão, pois é preciso seguir.


Débora Vasconcelos

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