Todos os medos, todos os desejos, toda culpa e toda
criatividade, tudo de todos os tudos que eu carregava.
Um a um foram destrinchados lentamente neste período.
Pude me desconhecer e reconhecer em diversos momentos.
Rever atitudes inesperadas em que eu me expunha tão pura
e verdadeira em minha essência, que antes eu encobria pelo pudor ou civilidade.
Ou me estranhar em movimentos rotineiros que eu me
impunha, para me enquadrar em uma situação que eu já não mais queria.
Vomitei várias vezes, minhas lágrimas gritaram muito por
socorro, e minha garganta secou em meio a tanto sussurro de minhas preces.
Eu cresci!
Fiquei mais alta do que os prédios em que eu não ousava
subir.
Eu pude ver de lá a pequenez de meus problemas.
Eu cresci!
Passando por todo processo doloroso de secagem da
semente, o plantio, os raios de sol queimando as folhas novas e os troncos que
surgiam resistentes, já com a casca grossa de levar tanta porrada do vento,
para enfim vir flores e quem sabe frutos.
Eu cresci!
Em diversos aspectos eu amadureci.
Não bastou apenas uma perda.
Foram várias que me fizeram ver o que eu negava
descaradamente.
Eu cresci!
Quando mesmo sem concordar, aceitei que cada um é o que
é.
Inclusive eu, que sou feita de escrita!
Débora Vasconcelos