É PRECISO IR AOS EXTREMOS DE SI,
PARA QUE POSSA EXPERIMENTAR-SE POR INTEIRO !


Débora Vasconcelos

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

A DIFÍCIL TAREFA DE CHORAR – 15/09/2009

Hoje não tive tempo pra chorar.

Estava muito ocupada no trabalho, minha supervisora saiu de férias e sobrou pra mim.

Segurei o choro entre um telefonema e outro, mais não o esqueci.

Chegando em casa lembrei que os coletores de lixo passariam no dia seguinte, fui pegando o lixo e pensei, agora sim vou chorar em paz. Aí chegou uma vizinha pra conversar. Enquanto a ouvia, lavava a louça e segurava o choro mais um pouquinho, como quem esta com vontade de ir ao banheiro mais tem que segurar a vontade.

Mesmo desabafando com ela de forma superficial as minhas angustias, eu não chorei, pois ela estava com o filhinho dela e eu não queria chocá-lo. Já que sabia que quando eu começasse eu não iria parar tão cedo. Quando ia começar a novela ela foi embora, pois queria assistir no conforto do seu lar.

Eu então achei que choraria toda aquela coisa que estava presa em mim desde manhã.

Mais aí toca o meu celular e eu tive que dizer que estava bem para o meu pai, pois se falasse que eu estava mal e não soubesse explicar toda aquela minha revolta de tanta coisa que estava fora do lugar dentro de mim, eu saberia que ele pegaria o carro e viria me ver e eu enfim queria simplesmente chorar sozinha, apenas chorar.

Depois de ouvir os problemas dele, senti me suja, pois tinha mexido no arquivo morto no serviço e com o calor que fez, suei, andei muito pra chegar em casa, pois minha carona teve que me deixar um pouco mais longe de casa hoje e eu já tinha lavado a louça e limpado o fogão...enfim, então resolvi tomar um banho e pensei que agora ninguém mais poderia me atrapalhar. Ao molhar meu corpo lembrei que eu sempre chorei escondida no banho, pois além de disfarçar as lágrimas misturadas na água do chuveiro eu não tinha que explicar para minha família ou namorados o porque estava chorando.

Afinal toda vez que eu tentei explicar, fiquei frustrada, pois descobri que para eles minha vida era cor de rosa e meus motivos pequenos de mais diante da imensidão de egoísmo que eles possuíam.

Então resolvi que não choraria mais no chuveiro, afinal eu morava sozinha e não precisa esconder de ninguém minhas lágrimas, poderia então chorar tranqüila no sofá da sala sem contas pra prestar. Me recusei a chorar no banheiro.

Sai do banho, passei creme, sequei o cabelo, pois sabia que se deixasse ele molhado iria ficar armado, não que isso me incomodasse, pois adoro os meus cabelos despenteados. Mas incomoda os outros no meu trabalho, falam tanto, mais tanto, fazem piadinhas, perguntam se eu fui trabalhar de moto, falam de mim pelas costas, e descobri com o tempo, que tanto as roupas quanto os cabelos representam muito a minha capacidade e competência. Pois no mundo corporativo, não adianta apenas dar resultados, tem que ser bonita, de cabelos bem tratados e de unhas feitas porque se não for assim é sinal de desleixo e de incompetência.

Estava com a barriga roncando, mas a tristeza havia me tirado o apetite, mais o vazio continuava. Como eu já estava mexendo com os cabelos, resolvi separar a roupa que usaria no outro dia. E quando vi era tarde e estava cansada até pra chorar.

Não sairia mais as lágrimas naturais que eu tanto segurei o dia inteiro. Minhas razões se tornaram pequenas diante de tantos contratempos, eu mesma me pus em segundo lugar. Era só o que faltava ter que colocar na agenda um horário para poder chorar. Fui dormir. Esse compromisso eu tive que adiar e ficou para outro dia, essa difícil tarefa de chorar.

Débora Vasconcelos

Um comentário:

LIGIA MARIA CERRI disse...

Tão difícil quanto a tarefa de chorar, creio que é engolir as lágrimas.
Lendo seu texto, dá até para sentir aquele nozinho na garganta "Enquanto o caos segue em frente, com toda a calma do mundo..." como diz a música.