É PRECISO IR AOS EXTREMOS DE SI,
PARA QUE POSSA EXPERIMENTAR-SE POR INTEIRO !


Débora Vasconcelos

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

OUTRO MAR – 31/12/10


Escorreguei a mão em seu paletó de veludo verde, macio como deveria ser. Poderia apenas cutucá-lo com a ponta do dedo, mas precisava daquele toque pela última vez.
Quando se virou para mim, o óculos escuro que lhe tapava quase que o rosto todo, queria disfarçar seu semblante, mas percebi que ele não estava bem quando me estendeu os papéis do divórcio naquele estacionamento.
Nunca esquecerei do timbre da sua voz naquele momento: rouco, trêmulo, banhado de lágrimas que lhe desciam garganta abaixo.
Ele não queria a separação. No fundo do meu peito o comodismo também dizia que não.
Quando abri a pasta, vi que ele ainda não tinha assinado.
Deixou pra mim como sentença, o poder de decisão.
Peguei friamente uma caneta na bolsa e sobre a lataria assinei ali mesmo, sem pestanejar.
Foi quando os enormes óculos dele não cobriram mais a tristeza que lhe escorria pelo rosto.
E ele pra dizer que tinha dignidade e aceitação, assinou também.
Assim sem mais palavras, sem olhares, cada um pegou sua via e o seu rumo.
No carro o vento que me batia no rosto levava uma sensação de desgosto e trazia uma alegria quase que esquecida, divina e livre.
Não havia arrependimentos.
Parei em frente ao mar e lembrei das inúmeras chances que lhe dei para que ele pudesse me amar direito. Mas seus erros é que continuaram perfeitos e por mim aquelas lágrimas poderiam encher outro mar.
Não havia em mim nenhum arrependimento.

Débora Vasconcelos

3 comentários:

LIGIA MARIA CERRI disse...

Admiro demais sua forma de descrever uma emoção.
Onde vc tira inspiração para escrever coisas tão bonitas?
Me encantei com
"...a tristeza que lhe escorria pelo rosto..."
"...aquelas lágrimas poderiam encher outro mar."
Parabéns pelo texto. ADOREI

Débora Cristina Vasconcelos disse...

Como eu fiquei feliz com seu comentário, pois não sei porque, quando terminei esse texto me lembrei instantaneamente de ti. Que bom saber que você gostou. Uma pena você não ter vindo em meu Sarau, eu amaria ter te conhecido pessoalmente e ter escutado seus textos também.

Um grande beijo.

Milton T disse...

Sim Débora pode usar. Bonitos seus versos, parabéns

=)